domingo, 4 de março de 2012

Sobre a organização social e a cultura social

Bom, em termos organizacionais e culturais eu acho nossa sociedade literalmente uma merda.
Primeiro porque, em relação à organização, nós tentamos administrar grandes áreas com grandes populações só com órgãos e uma burocracia tremenda.
A meu ver, a organização social funcionaria bem melhor se existissem conselhos de bairro e de ruas, onde as próprias pessoas cuidariam dos problemas locais, sem necessitar de um estado ou governo pra fazer isso.
Lógico, que a economia ainda precisaria de um regulador. Já que as pessoas não estão dispostas a simplismente viver pra contribuir umas com as outras, e que ainda costumam pôr seus interesses muito acima aos demais. Outra maneira de organizar a sociedade seria em comunidades. Seria bem mais fácil, inclusive porque as pessoas se agrupariam por interesses, e teriam um convívio relativamente mais amistoso, ou seja, acabariam colaborando mais e vivendo melhor em sociedade.
Já em relação à cultura, dá pra perceber de cara que o objetivo da nossa cultura é subordinar uns em benefício do lucro e da riqueza dos outros, não é uma sociedade feita pro ser humano se desenvolver, já que a própria educação é voltada para o mercado.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A arte enquanto profissão - Revisão de conceitos pessoais

Bem, esse é um assunto que eu considero bem interessante. Mas pela falta de tempo
pra escrever, hoje vou postar um texto bem enxuto, e talvez eu queira me demorar mais nisso assim que tiver mais tempo.
Eu estava aqui revendo meus conceitos sobre profissionais da arte...realmente é uma coisa sofisticada e requer bastante dedicação, caso se pretenda fazer um trabalho de qualidade.
Talvez nem todo mundo possa ser artista, no sentido ao mesmo tempo mais estritamente literal e íntimo do termo. Mas todo mundo, seguindo suas próprias inspirações pode fazer arte, ou seja, ser artista em tempo parcial.
Mas apesar da capacidade que considero comum a todo homem de produzir algo de valor com suas inspirações e impressões, agora acho que não devemos desprezar o artista enquanto profissional. É normal afinal, especializações em todos os segmentos da sociedade, sem que isso implique num não declarado "sistema de castas".
Pois veja bem, agora rebatendo minha própria opinião anterior, a cultura é algo tão valoroso na sociedade desde tempos imemoriais (sobretudo nessa época moderna, tão seca em certos sentidos de prazeres mais sutis), que seria bom dedicar a ela um cuidado especial, uma espécie de refinamento (que não implica em elitização e exclusão, só em melhoramentos), que só é capaz de acontecer qualificando da melhor maneira possível as pessoas que querem e tem tendência natural para fazer arte. É compreensível para todos que um músico que dedica apenas 2 horas do seu dia para estudos musicais nunca vai ser tão bom quanto um músico, dotado da mesma inclinação de fazer música, que dedique mais tempo para o seu trabalho.
Há muitos exemplos na história que nos esclarecem a respeito disso, como antigamente existia a tradição de "profissão de família", como é o caso de famílias de luthiers, onde o conhecimento da fabricação de instrumentos é passado de pai para filho e depois para neto. Na Alemanha inclusive, e acredito eu que em outras partes do mundo, existe até hoje a tradição de tais profissionais fazerem uma viagem com duração de um ano, espécie de peregrinação, onde aprimoram e ao mesmo tempo provam que sabem viver eficientemente apenas com os conhecimentos da profissão escolhida. Tudo isso demonstra um processo de contínuo aperfeiçoamento do trabalho, algo que pode não se limitar ao curto período que é a vida de um artista e ser humano em geral, mas ser repassado e continuamente aperfeiçoado por gerações. Sendo assim, é perfeitamente aceitável viver de arte, pois existe um retorno muito gratificante para a sociedade. Por acaso, quem não sente extasiado em ir ver uma boa peça de teatro na correria da semana, ou ouvir a elaborada sinfonia de sopro de um evento de choro?
Óbvio que é uma coisa que tem que partir da livre iniciativa do artista em querer ser realmente bom no que faz para tornar isso uma profissão, e saber que nesse caso também assume o compromisso de enriquecer a cultura da comunidade com seus talentos.
Fora isso, continuo mantendo as minhas opiniões sobre esse esquema de a arte moderna ter se convertido num negócio. Pra mim, nem tudo é arte. Mictórios em museus não são arte, quadros com gatinhos e cores neon valendo mais de 10.000 reais não são arte, esculturas sem sentido que representam a esquizofenia dos referidos "artistas", pra mim, continuam não sendo arte. Mas querer considerar tudo como arte enfim, não é de todo uma visão sem base. Se a vida é arte, o bêbado mijando no poste é arte, a sujeira urbana é arte, os problemas sociais e a violência também são arte, o musgo e a umidade nas construções antigas é arte. Porque arte é tudo que faz refletir, não tudo o que é simplismente belo. Mas que não me venham esses empresários do futuro com as suas insignificâncias e demências mentais querer meter na sociedade mais inutilidade e caos de idéias que já existem, querendo lucrar com toda essa miséria de idéias que tem na cabeça, refestelados num canto do seu ateliê depois de passarem 5 horas socando uma tela com tinta.
A gente já tem muitos problemas na sociedade sobre os quais dá pra refletir artísticamente, não precisamos de quimeras intelecutais que se vendem como filosofia pra fazer isso. Não inventem problemas ou não tragam os problemas que não deveriam sair do seu divã para tornar arte!! Problemas a gente já tem demais. E ainda mais, não queiram lucrar com eles.
A outra deixa fica para todas essas celebridades inventadas, que a inutilidade, contatos e um poquinho de promoção faz deuses. A gente não precisa pagar pra pôr pessoas comuns e pretenciosas num pedestal, não precisa pagar absurdos por shows nem por entradas no cinema, e nem pra ter um rodízio de elenco nas novelas. Isso não é arte, é uma idolatria sem sentido e uma tremenda perda de recursos.
Se querem fazer da arte um negócio, então vai ser necessário que criemos uma anti-arte...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A arte enquanto profissão

Algumas questões andam tomando forma na minha mente e formando quase opiniões (ainda que sempre abertas a mudanças) sobre a arte e as formas de fazer arte. Todos sentimos e sabemos que o belo e a sublimação são necessidades da natureza humana, e das mais legítmas com toda certeza, e que sempre o foram mesmo que de uma maneira muito instintiva e mais rude, e ainda não conceitualizada.

Depois de trocar uma idéia com pessoas com noções diferentes sobre isso fiquei pensando se de fato existe uma legitimidade e uma necessidade real de "profissionais da arte". Estas profissões são profissões não produtivas num sentido de não suprir coisas de primeira ordem de necessidade à sobrevivência e preservação da espécie, e também são profissões que não nos fornecem o desenvolvimento de tecnologias (tão facilitadoras na vida....comprimem o tempo e o espaço de uma forma real....); em suma, talvez elas não sejam tão necessárias e poderiam quem sabe deixar de existir, ou não. Essa é a minha pergunta, artistas profissionais (por maior que seja a beleza inerente à profissão) necessariamente precisam continuar existindo na sociedade humana?

A necessidade da arte é uma coisa eterna e verdadeira...mas porque julgar que a arte só se manifesta na cultura por meio de pessoas especializadas, com diplomas, ou ainda que vivam exclusivamente da arte?

Como diz George Maciunas na sua definição da arte a partir da anti-arte_"as formas 'anti-arte' atacam em primeiro lugar a arte enquanto profissão, a separação artificial do artista e do público, ou do criador e do espectador, ou da vida e da arte". Para ele, "a chuva que cai é anti-arte, o rumor da multidão é anti-arte, um espirro é anti-arte, um vôo de borboleta, os movimentos dos micróbios são anti-arte. Essas coisas também são belas e merecem tanta consideração quanto a arte. Se o homem pudesse, da mesma maneira que sente a arte, fazer a experiência do mundo, do mundo concreto que o cerca (desde os conceitos matemáticos até a matéria física) ele não teria necessidade alguma de arte, de artistas e de outros elementos 'não produtivos'". Ou seja, um estado de arte sem arte, onde tudo torna-se material indispensável para a "experiência do mundo"_ a arte é a expressão da própria vida, até o movimento de bactérias e o voar dos pássaros podem ser considerados formas de arte, em síntese qualquer expressão da vida ou da morte são artísticas por si, e olhar a vida de forma a apreciar e observar isso é arte.

Não sou tão radical quanto ele ao pensar que o ser humano não necessite manifestar por si mesmo essa arte em sua própria cultura, construindo-a (ou reconstruindo-a) a partir de si mesmo e de suas ferramentas. Porém, que necessidade teríamos nós de artistas profissionais se todos, ou grande maioria, fôssemos artistas? Por quê pessoas especiais precisam ser escolhidas pra exercer a arte na sociedade humana?

De certa forma a posição humana das massas de "trabalhar feito burros de carga", e a da elite científica de estar absorta por completo em suas pesquisas, exclui vários estratos da sociedade (principalmente o que é utilizado como mão de obra em trabalhos pesados ou funções "menores") de exercer a arte, oferecendo-a então como um produto barato e quase industrializado na forma de novelas, músicos, programas de tv e exposições feitas por artistas de renome. As "pessoas comuns" não tem tempo para se deleitar fazendo a arte e nem a ciência.

Algumas pessoas são escolhidas, eleitas, nesse sistema de meritocracia e de "vencer na vida" a exercer profissões mais agradáveis e que dignificam a essência humana, enquanto que outras meramente fazem o trabalho bruto, menosprezado, mas necessário para a manutenção social "porque não estudaram o suficiente, ou não se esforçaram, ou simplismente porque alguém tem que fazer isso".

Então, por sermos de certa forma privados da arte, de nós mesmos fazê-la devido a falta de tempo e condições, nos empurram ídolos bonitos, nos vendem músicas e shows que nós mesmos não podemos e não poderíamos fazer. Qualquer artista com bastante fama só a tem pela idéia que é vendida à massa (por mais que seu trabalho seja excelente, o reconhecimento só vem com a "venda da imagem"), em suma é criado um "alter ego de artista" necessário para que seu trabalho seja considerado uma função exclusiva e vital.

Isso é fruto do modelo de distribuição de trabalho, hierarquizado, que o sistema neoliberal nos oferece e que é voltado para girar a economia e enriquecer poucos. Pessoas chiques não querem saber de fazer faxina na casa, lavar pratos ou fazer pequenos trabalhos necessários à comunidade. Mas esse modelo é e foi algumas vezes burlado por pessoas que entendem que se cada um se esforçar para manter a ordem fazendo algumas pequenas tarefas, não é necessário designar uma maioria desfavorecida para fazer exclusivamente esses trabalhos mais brutos em tempo integral. Se pode notar isso, por exemplo, nos templos zen, onde cada um lava seu prato, e todos ajudam alternadamente a cozinhar, lavar e manter a organização no templo. A alternância de tarefas (ou então uma real igualdade econômica e de reconhecimento entre elas) como alternativa paralelamente ao trabalho principal realizado por cada pessoa, em suma, o espírito comunitário, possibilitaria que todo cidadão dispusesse de tempo para ser feliz e exercer ciência e arte impulsionando um desenvolvimento acelerado da sociedade.

Independente disso vou continuar gostando de secos e molhados, zélia duncan, mutantes e pink floyd...só desaprovo idolatrias, exclusão e a maneira como as coisas são feitas hehe.

Aqui fala (ou berra) uma pessoa apaixonada pelas artes...pela democratização da arte e pelo direito de ser artista!